janeiro 04, 2018

NÚMEROS INQUIETOS, NÃO TRATEM MINHA LOUCURA.

Por: Samuel Alejandro.


Este é o segundo artigo de toda minha vida. Toda segunda coisa tem fama de ruim. Então eu estou com dificuldade e dando voltas. Acontece que este mês não me parece um mês, mas sim um ano inteiro. Tivemos reuniões. Estive na berlinda. Algumas vezes. No ano. Quando Boris Casoy perguntou a Plínio Marcos se ele havia sido muito perseguido, Plínio respondeu que perseguido é coisa de bunda mole. “Eu fiz por merecer”. E desde então eu concordo. Teve Corumbá. Achei uma cidade muito especial. Teve Natal. Escrevi duas dramaturgias. Me meti a realizar os cenários e figurinos dessas dramaturgias junto de Kelly e Gabriel. Passei calor. Frio. Tomei chuva. Está tudo meio cru. Estou cozinhando aos poucos as informações. Estou cortando cenouras. Fiz meu último espetáculo do ano em um orfanato. Eu valorizo bastante os começos e os fins. Mas não lembro o primeiro espetáculo que fiz neste ano. Me sobraram muitos dias depois do último espetáculo. E não tenho nariz vermelho desde então. Fiquei até com medo de perder a prática. Esquecer as coisas. Esse tipo de coisa se faz todo dia. O teatro. Nesse mês eu contei até demais minha história. E eu contei com paixão para todo mundo que eu contei. E tive paixão por quem eu contei. Eu comecei a fazer teatro com 15 anos. Me pediram para andar pelo espaço pela primeira vez com 15 anos. Eu gosto mesmo é de colecionar as coisas. Em dezembro, eu andei de carretinha vestido de palhaço e dei tchau como uma miss. Uma vez, na minha primeira peça, eu dei um tempo dramático demais para a próxima fala e um menino falou. Silêncio é deixa e falamos juntos. Um dia, Fernando e eu fomos ao cabeleireiro e na volta, ele me disse: “Eu até pensei em você para fazer o Gepeto, mas você ficaria muito nervoso e estragaria tudo”. Outra vez, ele me disse que eu tenho mais cartas na manga do que ele e que isso um dia me levaria a ser um grande ator. Nesse Natal, eu ceei com as enfermeiras do hospital e estava delicioso. Eu gosto de colecionar bastante problema. E testo minha esperteza resolvendo. Como quando Ligia, Febraro e eu inventamos coreografias na hora. Somos um bom time. Todos os 10. 11. 12. Quem entrar. Quem ficar. Quem já foi. Desde criança, eu brinco de ter uma carreira. Sempre adorei falar “vou dar uma pausa na minha carreira, essa é uma nova fase da minha carreira, estou passando por um momento difícil na minha carreira”. E talvez eu brinque disso para sempre. E talvez, um dia, daqui pra frente, eu pisque o olho e perceba que tenho uma carreira. Eu pisque o olho e coma. Eu pisque o olho e dê um abraço. Eu pisque um olho e me apaixone. Eu pisque o olho pela última vez e morra. “A vida é um pisca-pisca”, já dizia Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Sempre gostei dela. Agora tenho de me despedir. A vida anda perigosa demais para o meu lado. É muita paixão envolvida. Mas eu gosto de amar. Em um ensaio de “O Pequeno Príncipe”, eu estava nervoso e gaguejando e errando. Então eu disse que odiava teatro. Fernando riu muito e disse que então eu estava perto de começar a amar. Dia desses, eu tentei relembrar essa situação e ele não se lembra. Perigo. Então vou começar. Nasci no ano de 1999, aqui mesmo, bem aqui e gosto daqui, filho de gente arranjada e arranjadora de problema. Minha mãe disse que eu parecia um joelho. E agora diz que pareço meu pai. As coisas mudam muito de figura. O meu grupo, o Grupo CASA, detentor deste blog e de várias outras coisas, como três cachorros, dois bebedouros e uma péssima coleção de talheres, viajou para o Espírito Santo. Foram na frente e eu fiquei aqui. Mas já os encontro. No dia dois, eu pego o primeiro avião da minha carreira. Fiquei meio solitário. Essa semana mesmo, eu me sentei em frente ao teclado e contei a mim mesmo a história de uma fada com uma música inventada de fundo. Acho que sou louco. Então, que ninguém descubra. E nem tentem me tratar pois é possível que funcione. Eu sou bastante maleável.

Com amor e odor, 
Samuel Alejandro. 

Essa é a segunda vez que assino assim. A primeira foi numa carta para o Roberto, nosso intérprete de Libras.



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