março 29, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 28/03/2017

março 29, 2017
   Tomamos café da manhã e nos dividimos em nossas existências para o coletivo. Depois do café da manhã, houve um mundo habitado por Ligia, Fernando, Preta, Azar, Samuel, Febraro, Gabriel, Yasmim e Daniel. O almoço foi preparado enquanto outras ações nos levaram a reformar o jardim da casa para o 2º Zappada, que acontece na sexta-feira. Transferimos vasos de lugar, plantamos mudas, descobrimos decorações e nos encontramos com uma grade antiga de cenários para ser companhia das plantas. Lemos livros, anotamos coisas, perdemos cadernos, vimos filmes. Todos fazemos coisas. Fizemos. Em alguma hora, almoçamos. Ligia passou o dia montando projetos da companhia e respondendo nossos e-mails de trabalho. Nos aproximamos para falar de festivais e planos para o futuro de abril e maio. O expediente ameaçou acabar quando Ligia fechou o computador e terminou de vez quando a agenda foi fechada também. Abrimos a discussão do jantar, onde iríamos e decidimos. Nos apertamos oito em um carro e seguimos viagem. Mudamos o destino no caminho, como de costume. Concordamos por um restaurante chinês. Comemos peixes, frangos e arroz. Voltamos para casa e colocamos os cachorros para dormir. Terminamos problemas e o dia assistidos por xícaras numa reunião improvisada na cozinha. Tivemos a conversa que deveríamos ter. Conversamos sobre as dificuldades de se conviver e as necessidades de se evoluir num coletivo. Sobre as portas que se faltam comprar, as intimidades que geramos e os erros por desmedida. Tudo está relacionado ao porco espinho interior de cada um de nós. Não demos nome aos bois. Preta fez o almoço, Azar e Gabriel fizeram o jardim, Val limpou a casa, Ligia, Fernando, Febraro e Samuel conversaram na cozinha. Vivemos uma terça-feira cheia. Nos aproximamos e nos afastamos. Olhamos o outro de outro ângulo e por isso ele já não era o mesmo. Não tenho muita coisa a contar além do meu ângulo. As companhias se fazem através de problemas. Tudo é problema. Não nos suportamos e nos amamos. Uma coisa bem feita é teatro. Por vezes me perguntam o que vou fazer se o Grupo Casa não der certo. Porque isso pode não dar certo. Eu nunca respondi. A escrita é sempre mais corajosa. Penso que se der errado, minha primeira atitude será calçar meus sapatos. Boa noite.


28/03/2017.

março 21, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 20/03/2017

março 21, 2017
   Às 12;00, pusemos a mesa do café do manhã e nos pusemos no mundo. Antes estivemos em camas e celulares. Organizamos a casa para iniciarmos o dia de trabalho e iniciamos. Durante o dia, fiz o diário de bordo de outro dia enquanto Fernando se sentou ao computador junto de suas anotações para escrever Robin Hood para a Turma do Bagacinho, Ligia cuidou da parte financeira da companhia, Febraro refez a biblioteca infantil, Azar saiu para vender artesania, Preta costurou o figurino de Kelly e Gabriel esteve na faculdade. Estivemos ocupados até às 17:00, quando fomos desocupados pelo almoço. Comemos frango, Gabriel chegou e nos organizamos para iniciar o ensaio de música. Diário de bordo postado, chás feitos e todos a postos, começamos. João afinou as vozes e Ligia afinou o teatro. O canto no teatro. Marcamos o ensaio de música dois dias antes do espetáculo devido a prejudicialidade de se cantar um dia antes da peça. Cantamos parados e nos movimentando, entendendo fôlego, respiração e força. Os lugares de subir e descer, a consciência dos vícios na voz e todos como um coro. Ligia instigou a busca das mulheres por vozes não-fragilizadas e cobrou força de todos no coro. Iniciamos pelas músicas de "Gaia - A Mãe Natureza", que apresentaremos nesta quarta na Feira Central pela Águas Guariroba e fomos até as 21:30 com as músicas de "Romeu e Julieta", que será apresentada em uma escola na quinta-feira. 1 minuto do ensaio foi registrado para nossa página do Facebook. Finalizamos para jantar. Organizamos a cozinha e a sala para o acontecimento. Sempre existe motivo para usar a palavra organizar. Somos muitos sempre em organização. Kelly comprou pães e frios e comemos sanduíches. Aumentamos a energia planejando viagens, casas de cultura e teatros. Somos planejadores. Encerramos as energias pelo planejamento do dia seguinte: trabalho. A semana é cheia e precisamos descansar. Nosso grupo do Whatsapp finalizou com fotos do dia e uma mensagem sobre foco e pessoalidade. Nada é pessoal. Nossas potências são pessoais. E ainda assim são coletivas. Descansamos as costas nos colchões e chãos conforme as necessidades. O teatro está intimamente relacionado com as costas do outro. Boa noite.


20/03/2017.


março 20, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 19/03/2017

março 20, 2017
   Acordamos em bando às 8:00. Tomamos café da manhã por necessidade para partirmos ao trabalho. Pegamos nossas roupas de trabalho, instrumentos de trabalho e partimos em nosso carro de passeio. Passeamos a trabalho. Chegamos no shopping e reconhecemos nosso espaço. Os chegados antes, Azar e João, passavam as músicas. Colocamos os últimos detalhes em cena no palco já arrumado pelo ensaio da noite anterior. Figurinos na arara e sapatos no pé, iniciamos o ensaio de "A Bela e a Fera". Passamos a peça inteira com música, coreografias e interrupções necessárias buscando não perder os ganhos da noite anterior. Ligia e Fernando nos cobraram atenção ao espetáculo e às marcações estabelecidas. Respeitar marca sem cumprir função. A necessidade da consciência corporal para uma melhor movimentação. Jogar um balde como quem joga um balde. Teatro é colaborativo mas tem diretor. Terminamos e fomos almoçar o possível. Comemos e voltamos ao trabalho. Nos encontramos palhaços passando o som com seus microfones. Encontramos problema e tentamos resolver problema. Fernando fez a primeira boca de palhaço em Azar. Como nascem os palhaços. Certo dia, Fernando fez minha primeira sobrancelha. Às 15:15, nossas mãos se juntaram e os microfones transmitiram o Toi Toi Toi para quem existia lá fora. O cortejo nos levou a um Arena Bosque cheio, onde apresentamos "A Bela e a Fera". Gabriel gravou o espetáculo e Daniel fotografou. Preta assistiu. Reconhecemos as frouxidões e os teatros no camarim. Tenho achado que o contrário do teatro é a frouxidão. O balde poderia ser melhor. A fala não deveria ter ralentado. Mixirica esteve bem como princesa. A cena do casal foi bonita. Precisamos de um melhor tratamento de som. Semana que vem tem Robin Hood. Os próximos espetáculos, as próximas belas e feras, heróis e bruxas são oportunidades de fazer bem. Tentemos. Nos separamos em nossas particularidades e nos juntamos para jantar. Comemos pizzas e tomamos sorvete. Parece que comemoramos algo. Nos despedimos da comemoração e uns dos outros. Luzes apagadas e cachorros dormindo, o dia acabou. Bom dia.


19/03/2017.


março 18, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 17/03/2017

março 18, 2017
   Às 09:00, o quarto da Comunidade estava cheio de nós mesmos. Cantamos parabéns para o aniversário de Yasmim com água, frutas e tapioca. Ligia foi à sua aula de canto e Fernando fez sua aula de violão com Carlão. Descemos as escadas para encontrar com nossas funções científicas. Trabalhei no diário de bordo enquanto Febraro terminava sua dramaturgia, Preta ensinava Gabriel a fazer pulseiras de macramé e João estudava música. Finalizadas as aulas, Ligia e Fernando se dedicaram ao almoço. Dia de ratatouille. Comemos bem.

   Nos recolhemos em nossos descansos até às 15:00, quando iniciamos o ensaio de "A Bela e a Fera", que apresentaremos neste Domingo no Shopping Bosque dos Ipês. A ausência de Yasmim foi solucionada por Kelly, como Bela, e incluímos Azar como músico do espetáculo. Passamos a peça primeiramente com as devidas interrupções para entendimento de ritmo, força e palavra. Calculamos novamente a entrada das músicas para afinação teatral e trouxemos de volta partes do texto antes ignoradas. Nós, os desafinados, cantamos as músicas trabalhadas durante a semana. Repetimos a peça como exercício e ciência até às 18:30. A ciência da continuidade. O entendimento do fôlego. Finalizamos e nos ocupamos de organizar a casa para o público.

   19:30. Ligia e Fernando abriram a aula situando a turma sobre o processo de criação de sinopses a partir de uma frase. Se despediram e deixaram que João conduzisse a aula enquanto organizavam o jantar. Lá fora o que é de fora. O jantar fica lá fora. Alongamos e aquecemos o corpo para o trabalho. Ouvimos as perguntas das notas musicais e respondemos com nosso corpo. O corpo no espaço fazendo música. O ritmo nos impondo e nós aceitando. O entendimento da associação com o sentimento. Somos afetados. Terminada a primeira etapa, experimentamos e escolhemos sons próprios para uma repetição em coro. Finalizamos com um grande Merda!

   A casa fechou para o público e abriu para o jantar do aniversário de Yasmim. A toalha branca na mesa e a pilha de pratos limpos ao lado denunciavam a especialidade do encontro. Nos reunimos em volta das possibilidades alimentícias de uma aniversariante em cuidados de saúde. Foi macarronada e suco de limão. Passamos uma noite gostosa de barulho, som, risada, foto e vídeo. Amor e carinho. Os cantores usaram a voz e os faladores usaram a fala. Combinamos de dormir cedo e não dormimos. Estivemos em companhia uns dos outros. Estamos em companhia de teatro. Fomos obrigados a ser família e não discordamos de jeito nenhum. Eu diria boa noite até que chegasse o dia. E todo dia é dia. De aniversário.

17/03/2017.

março 17, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 16/03/2017

março 17, 2017
   Acordamos tarde por necessidade. A partir das 11:00, nos ocupamos de nossas escolhas científicas. Retomei o diário de bordo enquanto Febraro trabalhava em sua dramaturgia, Ligia administrava as contas, Fernando e Gabriel iam ao shopping buscar nossos microfones defeituosos e João cozinhava o almoço.  Todo trabalho é estudo. Almoçamos todos juntos e retomamos todos juntos nossas particularidades. Kelly e Daniel chegaram em seus tempos e existiram conosco. Resolvemos figurino, passamos texto, consertamos microfones, varremos o chão. João iniciou a aula de canto com os desafinados. Trabalhamos as músicas do espetáculo de Domingo entendendo o lugar da respiração, da força na voz e a afinação enquanto coro. Notamos melhoria de um dia para o outro através do trabalho. 

   Às 17:00, os alunos da turma de 2 a 4 anos ainda não preenchiam a casa como de costume. Nos pusemos na garagem a esperar até que chegaram e a aula pôde começar com Ligia, Febraro e Samuel. Cada uma criou sua própria história de bruxas, carros, girafinhas, corações e meninas. O entendimento da criança do começo, do meio e do fim. Finalizaram a história e depois a desenharam passo a passo. No processo de desenho, a bruxa ganhou novos rivais, a girafinha explodiu de tanto comer batata frita mas continuou viva e o carro que não tinha olhos achou um par na pista de corrida. Toi Toi Toi! O teatro fala de tudo. A partir da ideia de que o processo desta turma seria montar uma casa de contação de histórias e transformar seus personagens em fantoches, Ligia decidiu que este seria o processo de todas as turmas para criança. Ficou definido, assim, o 2º ETECA - Encontro de Teatro Para Crianças. A primeira edição aconteceu no ano passado, onde as crianças escreveram suas próprias dramaturgias e apresentaram suas cenas pela casa. Todo lugar foi palco. O desafio de agora é contar histórias. Todo lugar ainda é palco.

   Terminada a aula de teatro, nos preparamos rapidamente para ir ao teatro. Transferimos a aula de teatro da turma adulta para o teatro. Assistimos "Guardiões" no Teatral Grupo de Risco. Fomos ao teatro e vimos teatro. Um espetáculo preenchido e resistente. Ficamos após a apresentação e ouvimos sobre o processo de criação e pesquisa, que contou com relatos do povo pantaneiro e lendas deste imaginário. Cumprimentamos a equipe em bando e fomos embora em bando. Estamos sempre em bando. Somos tribo, trupe, companhia, banda, coletivo, grupo. Somos juntos e nos juntamos um pouco mais. O outro sempre cabe. Chegamos em casa para jantar e discutir. Jantamos morte, egoísmo e vida. Discutimos frango, abóbora e ovo. Nada é verdade. Tudo é ficção. Subimos as escadas e a energia continuou alta. Os ciclos só se fecham quando se diz "Boa noite". Boa noite.


16/03/2017.


março 16, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 15/03/2017

março 16, 2017
   Acordamos e fomos acordados às 9:00 para ocuparmos o andar de baixo da casa com nossos afazeres. Fernando fez pesquisa para seu novo desafio dramatúrgico: escrever Robin Hood para o Bagacinho. Ligia se dedicou a responder os interessados na nossa programação de três anos, que inclui curso de violão, oficina de artesanato e uma turma nova para não-atores. Febraro e Samuel imprimiram as cópias de Sonho de Uma Noite de Verão para nossa leitura dramatizada, que surge como evento de comemoração ao nosso aniversário e estudo prático para a melhoria de nossa leitura. A intimidade necessária do ator com a palavra. Iniciamos a organização do almoço e para o almoço. João, Gabriel, Kelly e Daniel chegaram em seus tempos e se juntaram à dança. Dançamos todos em nossas rotinas e caos. Almoçamos na mesa de vidro da sala. A mesa ficou sem toalha e trocou de função. Virou mesa de estudo.

   Iniciamos nossa leitura de "Sonho de Uma Noite de Verão" de William Shakespeare com tradução de Bárbara Heliodora. Na introdução, passamos por algumas informações interessantes sobre a obra, que tem mais da metade composta por versos, o que nos cobra uma inteligência de leitura e respiração. A leitura se iniciou com problemas e se transformou na reunião frequente sobre nossa falta de olhos e ouvidos. Ligia e Fernando falaram sobre nossa existência e presentificação em cena. A ciência da pulsação. Do motorzinho em nossas barrigas. Do falar como quem fala. Andar como quem anda. E vai para algum lugar. Transferimos "Sonho" para outro momento por necessidade. Necessidade de discutir e resolver problema. Em nossa agenda, temos alguns problemas marcados. O primeiro é "A Bela e a Fera", que apresentaremos neste Domingo. E vamos resolver. Nós, os desafinados, começamos as resoluções sendo afinados por João na música do cortejo até que os alunos começassem a chegar. 

   17:30. Aula de teatro com Samuel e Febraro. As crianças se alongaram e se aqueceram para o exercício. Andaram preenchendo os espaços vazios e experimentaram a fluidez e a ruptura dos movimentos. Estudaram a percepção do coletivo e sua movimentação. Terminada a etapa física, pegaram livros em nossa biblioteca e a partir de uma frase escolhida, criaram sinopses de personagens. Nasceu um gato que se apaixonou por um violino e acabou por se casar. Um guarda-chuva que vivia num mundo sem cor e se apaixonou por uma guarda-chuva vermelha chamada Poesia, então a Poesia sorriu para ele. A Chapeuzinho Vermelho ganhou nova versão. Milhares de coisas surgiram pela primeira vez para darmos continuidade. Somos coisas com começo, meio e fim. Toi Toi Toi!

   Ligia e Fernando foram conhecer o espaço de uma apresentação que faremos na semana que vem enquanto a Casa de Cultura funcionava com aula de música por João para a turma adulta. Alongamos e aquecemos o corpo para o trabalho. Experimentamos o corpo pelo espaço a partir das notas musicais. Os sentimentos que um ré provoca. Um ré com lá. Um sol com mi. Uma sinfonia. Uma canção. A ciência de se deixar levar. Definimos, cada um, sons de nossa autoria e vontade para que formássemos coro. Trabalhamos ritmo e repetição até que às 9:30 bateram à porta. Merda para finalizar. Finalizamos a casa para o público e abrimos para coisa nenhuma. Conversamos, comentamos e jantamos. A energia precisava baixar. Aqui a energia sempre precisa baixar. É muita. E junta. E maluca. Baixamos para levantar na manhã seguinte. Adeus e até logo é o que dizem. Os incensos já fizeram seu trabalho e agora as camas fazem o delas. Boa noite.


15/03/2017.


março 10, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 08/03/2017

março 10, 2017

Acordamos às 9:00 para a organização de nosso depósito de ferramentas. Nossas ferramentas são de teatro. Figurinos, sapatos, tecidos, bolsas e cortinas. Terminamos e direcionamos a força de organização para os outros lugares necessários da casa. Garagem, sala, quartos, cozinha e chãos foram limpos enquanto discutíamos amor, arte e a morte por necessidade. Gabriel teve a ideia de transformar as boas sentenças que soltamos no cotidiano em artes para nossa página do Facebook. "Sem possibilidade de ser parida, a arte passa a ser imposta" inaugurou, resultado de uma discussão sobre o lugar mercantilista em que a arte por vezes se encontra afastando o lugar da liberdade de criação. Resolvemos nossos compromissos e particularidades coletivas para começarmos nosso grupo de estudos. Iniciamos a leitura do segundo capítulo do livro, capitaneados por Ligia e Fernando e equipados de três traduções diferentes. Somos dez digerindo literatura. Identificamos na história a presença da "Jornada do Herói", conceito de Joseph Cambell. O segundo capítulo trouxe os primeiros sinais da transformação a partir do encontro no embate do protagonista com outra força selvagem e diabólica frente à sua inteligência e sensibilidade. Comentamos que precisamos das duas forças. Para fazer teatro, precisamos ser poetas e navegadores. Por agora, estamos mais perto da poesia. Ainda não sabemos como puxar uma vela. Esperamos que o processo nos encaminhe. Pensamos teatro a partir das diferentes palavras e línguas das traduções formando um mesmo sentido. Cessamos devido à chegada das 17:30, horário da aula de teatro para crianças começar com Febraro e Samuel. 

   As crianças começaram se alongando e se aquecendo pelo espaço. Experimentaram novos corpos, vozes e formas de andar buscando entender o caminho do corpo e sua percepção no espaço. Perceberam o chão de madeira, a parede de gesso, o outro de carne e osso. Teatro é tato. Escolheram livros de nossa biblioteca e compartilharam a história da forma que entenderam. O Patinho Feio foi levado por um vento muito forte de volta para sua família no fim da história. A Bruxa de João e Maria era também mãe deles. O encontro transforma. Toi Toi Toi!

   Às 19:30, aula de teatro para adultos, com Ligia. Lá fora o que é lá de fora. Alongamos e aquecemos o corpo para o trabalho. Estudamos a ciência do coletivo e a sintonia do encontro nos concentrando para que fôssemos um só corpo com uma só respiração. Experienciamos a percepção do espaço em coletivo de olhos fechados, se guiando em conjunto, lentos e rápidos. A dificuldade de se neutralizar para a união das matérias, a dificuldade de não estar cheio de si mesmo. Depois do exercício, lemos e discutimos o tratamento final de nossas sinopses. Rendeu um bom caldo. O caldo de nós mesmos. O outro é a cenoura de nossa sopa. Finalizamos a aula às 9:30. A casa fechou para o público e abriu para que jantássemos a sopa de calabresa preparada por Fernando. A energia precisava baixar. Fomos dormir e amanhã a navegação continua. É um diário de bordo porque estamos a bordo. Somos poetas e navegadores. 


08/03/2017.

março 08, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 07/03/2013

março 08, 2017
   O dia começou antes das 9:00 e trouxe a lembrança de exatos três anos atrás, através de uma postagem de Ligia em seu Facebook anunciando o início das aulas de teatro na Casa de Cultura Nildes Tristão Prieto para o dia seguinte. Lembrança boa. Celebramos nossa pequena vida de três anos. Celebramos nossa terça feira de folga. Ainda que folga, a terça feira de folga de uma companhia de teatro com necessidades domésticas e alimentícias. Trabalhamos em nossas necessidades domésticas de limpeza e varal enquanto Ligia e Fernando foram ao mercado encontrar soluções econômicas para a alimentação de dez pessoas. Encontraram e voltaram para o nosso almoço. Almoçamos todos juntos com a casa organizada. Colocamos na mesa a discussão que vem sido frequente conforme nos aproximamos dos três anos de Grupo Casa. Muitas pessoas passaram por aqui e algumas não deixaram como troca nem mesmo a gratidão por estarem imbuídas de uma vaidade que não cabe em nossa lógica de trabalho. Sigamos com o que somos e com quem somos. O teatro como prática diária. Somos admiradores da seleção natural. Teve sobremesa. Me dediquei à sobremesa e posteriormente ao diário de bordo. Ligia usou outro computador para elaborar novos projetos de trabalho para a companhia a partir das propostas que recebemos. Nossa conta de e-mail tem história. Hoje abrigou um projeto para o Dia Mundial da Água, contando com a apresentação do espetáculo "Gaia - A Mãe Natureza". Fernando criou um grupo no Whatsapp exclusivo para resultados de nossas pesquisas literárias e de romance em cena. Inauguramos com capturas inspiradoras da montagem de "Moby Dick" por Aderbal Freire Filho. Nos recolhemos em nossas particularidades durante a tarde. As particularidades também formam um coletivo como ninguém. Ligia e Fernando saíram para caminhar. Temos discutido a necessidade de voltarmos à prática de exercícios físicos diários para criarmos corpos resistentes enquanto atores. Em janeiro, as mudanças propostas pelo caos e aceitas por nós interromperam a rotina de caminhadas que tentamos manter para o processo de um espetáculo. Gabriel finalizou e divulgou em nossa página do Facebook as artes de divulgação de "Aladdin e a Lâmpada Maravilhosa", peça que apresentaremos neste Domingo no Shopping Bosque dos Ipês. Desenhou um Aladdin com nariz de palhaço. A metalinguagem do Aladdin interpretado por Bagacinho. Fernando citou em ensaios anteriores os Backyardigans como referência. Amigos que se reúnem em um quintal para imaginar. Tal qual a Turma do Bagacinho. A lógica do palhaço que procura problema e resolve problema. Ligia e Fernando voltaram da caminhada e começaram o preparo de nosso jantar. Comemos hambúrguer e resolvemos jogar Quest novamente. Está ficando repetitivo. Jogamos até nos dispersarmos do próprio jogo e de nós mesmos. Subimos para dormir. Estamos dispersados até que a manhã se pronuncie.


07/03/2017.


março 07, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 06/03/2017

março 07, 2017
   Começamos os despertares por volta das 9:00. Nosso dia de folga, mas ainda assim a folga de uma companhia de teatro em que grande parte dos integrantes moram juntos. Experienciamos a ciência do brincar de casinha. É o que todos fazemos com a casa. Enfeitamos o estranho, limpamos o sujo, organizamos a bagunça. É prática de grupo. Continuamos a reforma dos quartos da Comunidade trazendo os móveis coloridos e fazendo as organizações necessárias. Gabriel terminou os desenhos na parede do quarto vizinho. Os pássaros já moram numa árvore e estão rodeados por molduras coloridas. Durante a escolha dos desenhos, dias atrás, discutimos liberdade na arte. Não chegamos em conclusões mas pautamos as coisas nas quais o artista esbarra em suas criações. O pensamento, o público, os bons costumes, ele mesmo e suas vontades. Citamos Jack London que ao escrever "O Lobo do Mar" não levou a obra do jeito que ela surgiu para que a tensão sexual dos dois protagonistas masculinos não prejudicasse as vendas. Pensamos que liberdade possa ser o domínio de todas as práticas para o exercício delas com tranquilidade. Mas ao mesmo tempo em que o domínio de uma prática traz liberdade, ele traz prisão. Talvez liberdade não exista e fora daqui seja a morte. O quarto de Ligia e Fernando também pegou cor. Fernando deixou laranjadas duas paredes significativas. Estamos cumprindo nossa promessa de ter uma casa mais colorida. Notamos o quanto a reforma dos quartos melhorou a energia do andar de cima. As cores fazem uma casa. Almoçamos lasanha. Ligia respondeu nossos e-mails de alunos e propostas de trabalho. Fiz o diário de bordo por grande parte do dia. Tenho me debatido mais a partir da observação e consciência de que o trabalho do blog precisa ser mais profissional e menos blog de fofocas. Fernando comentou sobre o desafio proposto de um texto bom por dia. Ligia disse que nos coloca onde podemos chegar. Os dois partiram para o médico enquanto o restante da casa dormiu por necessidade e coincidência. Quando chegaram, continuamos o trabalho no andar de cima. Subimos móveis amarelos e verde musgo para o quarto de Ligia e Fernando e uma colcha de retalhos colorida para a cama. No meio da arrumação, achamos cartas antigas de alunos do Grupo Casa contando a importância do teatro em suas vidas. Todos os papéis escritos são cartas. Uma criança escreveu ao lado de um desenho de Romeu e Julieta os quesitos para ser uma grande atriz: não se achar, saber as deixas, ajudar os outros e falar alto. Varremos a sala e colocamos a mesa para o jantar do coletivo. A prática de grupo não para. Jantamos e a proposta e vontade de jogar Quest logo surgiu. Jogamos. O Quest também é ciência. A ciência de escavar o cérebro. Exercitamos nossos conhecimentos para que nosso pino ande no tabuleiro e quando não, aprendemos com a resposta do outro. O encontro transforma. Até o de pinos. Enquanto jogávamos, Ligia esteve em seu quarto para fazer a agenda de trabalho da companhia no mês de março. Escolhemos juntos as peças do mês pensando nas chances que queremos. Repetição de peça é chance de fazer melhor. Agenda terminada, ensaios marcados, espetáculos definidos e horários estabelecidos, Ligia se juntou ao jogo. Fomos até que a necessidade de dormir chegasse. Estamos próximos de completar três anos de companhia. Temos nos questionado se a comemoração será uma festa, um sarau ou uma leitura dramatizada. Ouvi que o plano é renovarmos nossos votos. Entendi que somos casados. Então serão bodas de trigo. Há três anos fazemos teatro juntos, observamos o teatro no mundo e nos avisamos quando o céu está bonito.


06/03/2017.

março 06, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 05/02/2017

março 06, 2017
   Fomos acordando e se acordando, como de acordo, por volta das 8:00. Tomamos um café da manhã reforçado, pegamos as últimas necessidades de cena no depósito e partimos para o Shopping Bosque dos Ipês ensaiar Cinderela. Chegamos e reconhecemos nosso espaço de trabalho. Organizamos o camarim e o cenário. Fernando afinou a iluminação, Ligia afinou o que precisava ser afinado: o equilíbrio do palco, os figurinos e os objetos. Posicionamos nossos instrumentos e começamos a tocar o espetáculo. Somos uma banda. Ensaiamos. Ligia e Fernando nos dirigiram e nos posicionaram. Deram aula. Ensinaram palhaçaria. Ensinaram a respeitar a marca sem cumprir função, respeitar a marca existindo. Existir sem o naturalismo impregnado pela televisão. Ainda somos todos alunos de teatro. Observamos a diferença dessa apresentação de Cinderela para as anteriores, partindo do ponto que agora existem novos atores, novas marcações e novas inexperiências. A fome se apresentou em nossas barrigas e decidimos parar para comer. Almoçamos sanduíches. Má escolha para a saúde, mas tinha a rapidez necessária para continuarmos nosso ensaio. Está bem que teatro também não é a melhor opção para a saúde. Continuemos. Continuamos de onde paramos e fomos até o fim. Após o fim, Ligia e Fernando iniciaram uma reunião sobre o espetáculo e sobre o mundo. Nosso mundo era aquele naquele momento. Falaram sobre escutarmos e enxergarmos uns aos outros em cena para que ela aconteça da melhor forma possível, com consciência e tranquilidade. Sobre a preocupação de não fazermos um espetáculo prazeroso apenas de forma interna tornando desinteressante para quem vê de fora. Sobre entendermos nosso personagem e o do outro. Defenderam a presentificação. Trabalhamos como presentificadores. Fernando e Ligia lembraram da ciência que tivemos o prazer de experienciar em nossa temporada de férias, feita em janeiro no teatro de casa. A ciência da repetição. Fizemos os mesmos espetáculos por dois dias seguidos. Lembramos que a apresentação do segundo dia era notoriamente melhor que a primeira, por conta da prática, da experimentação, do domínio da cena. Temos sorte de experimentar uma peça diferente por semana no Shopping Bosque dos Ipês. É uma outra ciência. A ciência do agora ou nunca. Porque não repetimos no dia seguinte. Só acontece no dia que acontece. Parece uma conversa de horas. Foi e continuará sendo. É a tecla em que batemos. Organizamos o palco para o início do espetáculo e trocamos nossos figurinos da vida cotidiana pelos figurinos de nossos palhaços. Testamos o som de nossos microfones frente à uma plateia já cheia. Às 15:15, Toi Toi Toi e cortejo pelo shopping. A ciranda nos levou até o palco e apresentamos Cinderela entre calços e percalços para um Arena Bosque lotado. Terminamos a peça com a consciência de que não fizemos nosso trabalho da maneira que podemos. Recebemos bronca de Ligia e Fernando no camarim. Sobre estarmos desatentos e sem ouvido. Sem enxergar a cena, não há o enxergamento de si mesmo, não há presentificação e existência. Não estivemos ali cem por cento por descuido, por falta. Ficamos aquém do que poderíamos fazer. As falas cortadas, o desequilíbrio no palco, os movimentos flácidos e os problemas no microfone denunciaram nossa falta de olhos e ouvidos. Entendemos. Estamos de acordo. Organizamos o palco e nossos figurinos para a próxima. Até a próxima. Voltamos para casa divididos em três carros com um destino em comum: o lanche da tarde. Lanchamos todos juntos na mesa da sala com sonhos, pães, chás e cafés. Fernando e Ligia contaram sobre a falsa promoção relâmpago que aconteceu no supermercado em que compraram nosso lanche. O mundo é cheio de teatro. Inclusive o ruim. A vontade e a proposta de jogarmos Quest se apresentou. A mesa do lanche virou mesa de jogo. Mesas são multifunções. Jogamos duas partidas e fomos vencidos pelo jogo e pelo cansaço. Ligia jogou enquanto fechava trabalhos para a companhia. Topamos apresentar Romeu e Julieta e ministrar uma oficina de teatro para crianças numa escola. As despedidas necessárias foram feitas e organizamos a casa para que ela dormisse e nós também. Não dormimos. A casa sim. A louça está lavada até a próxima refeição. A porta está fechada até a próxima chave. Os figurinos estão no varal até a próxima. Até.


05/02/2017.


março 04, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 02/03/2017

março 04, 2017
   A companhia toda acordou por volta das 9:00 no mesmo quarto, o quarto de Ligia e Fernando. Dormimos todos juntos por necessidade. Estamos reformando e reconfigurando os quartos da Comunidade, onde normalmente dormem Gabriel, Samuel, Febraro, Yasmim, João e Roberto. Fizemos uma troca de quartos para melhor acomodação do coletivo e agora esperamos uma triliche, que chega na segunda feira. Descemos todas as cômodas e estantes para lixarmos e colorirmos. Por agora, os dois quartos já tem uma parede azul em comum. Somos muitos. No dia em que voltamos de Pirenópolis, está registrado no blog que conhecemos dois argentinos (Almendra e Azar) e uma brasileira (Preta) com o furgão enguiçado na esquina de nossa rua. Viramos amigos e estamos morando juntos até que eles possam seguir viagem fazendo música pelo planeta. O grupo diminuiu hoje com a partida de Almendra para São Paulo. Todos temos ido adelante. Em meio a esse furacão, somos capitaneados por uma força feminina capaz de guiar a nós e ao furacão: Ligia Prieto. É ela. Ao acordar, descemos e continuamos nossa reforma. Ligia pintou de amarelo a antiga estante de toalhas. A partir da nova cor, surge uma nova função para a estante. João se encarregou de fazer o almoço. Yasmim e Gabriel, chegado da faculdade, continuaram a pintura dos quartos. Enquanto colocávamos a mesa, Fernando, Samuel e Febraro se aprontaram para acompanhar Ligia no médico.  Descemos para almoçar macarrão penne ao molho vermelho com frango. João se desculpou por não estar muito bom. Ligia disse que é bom não estar incrível pois assim não comemos tanto. Seguimos para o médico, mas lá descobrimos que o procedimento ainda precisa ser autorizado pelo convênio. Agora só segunda feira. Está tudo bem. Estamos adiantados. No carro, falamos sobre diretores que apenas vendem seu nome para a direção do espetáculo e assistem dois ou três ensaios para ver se o nome não está muito comprometido. Fernando contou sobre suas experiências no Rio de Janeiro. Uma floricultura interrompeu a conversa. Ligia queria comprar uma rosa para Helena, aniversariante do dia e secretária da clínica odontológica do pai de Ligia. As flores que não eram de plástico eram muito caras, então fomos embora. Compramos doces em uma panificadora para presenteá-la. 

   Chegamos em casa e Kelly e Daniel já haviam chegado. Nos recebemos e continuamos o trabalho. Ligia e João se puseram a lixar as cômodas para a pintura. Kelly conversou com Ligia sobre o fechamento de um novo trabalho para uma escola municipal. Ligia sugeriu a apresentação de "Gaia, a Mãe Natureza". Yasmim e Gabriel continuaram a pintura dos quartos. Samuel, Febraro e Daniel limparam e organizaram o teatro para receber os alunos de 2 a 4 anos, cuja aula começaria às 17:30. Pouco antes de a aula começar, a casa ainda não tinha nenhum aluno a preenchendo. Às 17:30, haviam todos. Crianças são pontuais. A aula começou, ministrada por Ligia, com a ajuda de Yasmim, Febraro, Samuel e Daniel. As crianças começaram se alongando e se aquecendo. Andaram se equilibrando, pularam, jogaram almofadas, foram de um ponto a outro, correram. Usaram o corpo e foram dificultando. Cada uma escolheu um livro de nossa biblioteca para descobrir histórias. Apresentaram suas histórias para a plateia. Finalizamos com Toi Toi Toi. 

   Ao sair da aula, as paredes do quarto já estavam mais pintadas do que antes. Agora existia o cinza. Nos aprontamos rapidamente para assistir ao espetáculo João e o Pé de Feijão na Terra do Nunca, do Circo do Mato. Ligia transferiu a aula adulta do dia para o teatro. Apenas Ana Kariny e Felipe se juntaram a nós. Partimos. No carro, conversamos sobre a aula das crianças. Ligia nos explicou que na aula, os comandos precisam partir de uma pessoa só, para melhor entendimento da criança. Chegamos em bando no Teatro Prosa às 21:00. Ligia retirou os dez ingressos do bando com alegria por estar em bando. Ficamos na entrada esperando a abertura do teatro. Abriu. Fomos recebidos pelos atores nos dando "Boa noite" e nos acomodamos na plateia. O espetáculo começou. João e o Pé de Feijão na Terra do Nunca. Quando o espetáculo acabou, fomos embora mas na segunda calçada, decidimos voltar para a roda de conversa. Anderson Bosch e Mauro Guimarães contaram sobre o concebimento da peça e da dramaturgia, sobre a união das histórias infantis Peter Pan e João e o Pé de Feijão, o processo de criação, etc. Cumprimentamos todos e fomos jantar. Daniel levou nosso aluno Felipe em casa. Definimos a janta como espetinho e decidimos o local. No caminho, transferimos a fome para outro lugar, mais barato e mais perto. Ainda assim, foi espetinho. Comemos e conversamos por necessidade. Falamos sobre o cenário cultural de Campo Grande, sobre a dificuldade de se fazer teatro em todos os lugares. A conversa se estendeu para o carro. Ligia falou sobre o machismo, sobre o costume da sociedade de definir, de antemão, que o homem faz mais coisas que a mulher, a partir das situações que ela sempre acaba por passar quando acham que Fernando é o único capitão de nossa Cia., quando na verdade, os dois tem grande força em nossa condução. A discussão se estendeu para casa. E é uma discussão estendida para o mundo. Basta enxergar. Provamos o bolo de cenoura com cobertura de chocolate feito por Preta e Azar. Nos aprontamos para dormir. Desocupamos todo o quarto de Ligia e Fernando de nossas roupas, sapatos e objetos para ocuparmos com nossos colchões e travesseiros. Dormimos todos juntos novamente.


02/03/2017.


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