janeiro 04, 2018

O DESAFIO DE ESCREVER

Por: Kelly Figueiredo.


Encaro aqui o meu primeiro desafio de escrever um artigo. Sempre há tempo para mudar, tentar ser outro. Então bora lá encarar essa aventura que deixa o coração acelerado como em uma queda de paraquedas. 

Escrever, apesar de ser necessário, para mim é muito difícil, pois terei que me despir com as palavras certas e muitas vezes não sei usá-las, encontrá-las e encaixá-las. Mas procurarei colocar tudo que me veio e tudo que o coração pediu. 

O mês de dezembro prometeu. A nossa cabeça não para, então sempre temos coisas para arrumar, fazer, reorganizar e criar.

Embarcamos na aventura de criar alguns adereços novos para as próximas peças, que não são poucas. Para criar e recriar a partir do que já existe, precisávamos que o dia tivesse 72 horas. 

O primeiro passo é localizar tudo o que utilizaremos. Nossa casa é cheia de coisas, nada passa despercebido de nós quando estamos com olhos atentos e produtivos. Depois partimos para o nosso imaginário cênico. Acreditamos que tudo pode ser criado e transformado. E aí vamos nós. Este foi um mês que, apesar de eu, Gabriel e Samuel estarmos nos ambientando mais com as ideias do coletivo, eu particularmente me senti sozinha. Seria talvez pela minha falta de sensibilidade de entender as ideias, de abrir os olhos, de sentir pulsar algo dentro de mim que me faça explodir e reorganizar as ideias que me afloram, quais nem sempre consigo expor. Talvez pela falta de aprofundamento estético de criação. Depois que os meninos se juntaram a mim no ateliê, tenho praticado com eles o dialogar da construção antes de iniciarmos algo, coisa que eu não fazia antes. Antes eu fazia da forma que eu achava que seria o correto e, muitas vezes, estava enganada. Hoje ficamos algum tempo discutindo se o material é o ideal, se a cor funciona, se o objeto está dialogando com a estética do grupo, se é isso mesmo. Há vezes em que piramos, montamos e desmontamos. Várias e várias vezes até que o elemento dialogue com a estética do todo e isso me deixa muitas vezes sem paciência, sinto-me incapaz de realizar algo. Algo que seja visto com bons olhos, que seja o que todos achavam que deveria ser feito. 

Não é fácil criar. Criar demanda tempo e tempo não temos de sobra. Tudo é pra ontem. 

A missão de criar harmonia entre figurino, cenário e adereços nos impulsiona a sermos e nos afirmamos como artistas criadores. 

Existe um meio certo para criar? Um imaginário certeiro e preciso a respeito de cores e formas? Talvez não. Mas depois de errar algumas vezes, por falta de paciência, destreza e habilidade, descobri que o caminho para acertar é o da construção. Como uma lâmpada mágica que se acende e nos faz acreditar que tudo é possível. 

Só quando estamos realmente vivos e conectados é que os verdadeiros sentidos voltam a funcionar. A vista observa com real curiosidade e recupera a capacidade do encantamento, os ouvidos se abrem numa escuta carinhosa e atenta, a fala se torna calma e se manifesta com mais doçura. 

Voltando a dezembro. Nosso mês foi mais curto, já que saímos de férias após a primeira quinzena.  Porém nossa caminhada é longa e a arte é infinita. Dezembro também foi de decisões, como todo grupo, nós também temos desentendimentos. Penso eu que muitas vezes são causados por falta de entendimento e comunicação. Convivemos 24 horas por dia juntos, e isso não é fácil, às vezes colocamos coisas em nossas cabeças que não fazem o menor sentido. Precisamos nos reaver com isso e entender que nem sempre estamos certos. Precisamos nos cuidar e mudar a todo instante. Isso é muito importante em um coletivo: cuidar de si, do outro, e de nossas mentes. Do contrário, nos impregnamos de nossas verdades e vaidades, sendo que a verdade é apenas uma invenção individual. 

Todo dia fico pensando que é preciso me desarmar, deixar ser, me reinventar, receber, me abrir e canalizar toda a vivência e a experiência que passamos todos os dias, que são muitas. 

É preciso me acalmar, aprender a voar, me entregar e inovar com tudo o que me causa transtornos. Abraçar mais o meu coletivo, arriscar mais com eles, voar com eles e deixar que as palavras saiam de mim e que eu me organize por dentro e por fora.

Apesar de não gostar muito de escrever, encaro este desafio como um aprofundamento e conhecimento de toda a vivência e os acontecimentos que me cercam. Não sei brincar ou usar muito bem as palavras, não sou poeta e nem escritora, as palavras às vezes me dão medo, mas é uma forma de conseguir me desarmar e fazer as pazes com a escrita, com o saber passar algo para frente, com o dialogar com as letras, com o conhecimento e com o outro. 


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