janeiro 27, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 26/01/2017 - NÓS

 Para quem não olha com os olhos de ver, parece só uma casa bagunçada. Mas é uma casa em que houve trabalho o dia todo. Pelo teatro. Uma casa que recebeu energias de todos os tipos, ouviu muita música, se encheu de palavras, de vozes, de corpos. Pelo teatro. Por aqui hoje, existiram vinte e duas pessoas e três cachorros. Onze livros sobre teatro foram abertos. Dez textos de trabalho entraram em desenvolvimento. Uma peça foi ensaiada. Uma aula foi dada. Nove músicas diferentes foram tocadas infinitas vezes. Não houve silêncio. Um desenho foi feito o dia todo. Os três cachorros morderam um colchão. O depósito foi organizado. Fizemos almoço. Comeram na mesa sete pessoas. Ficaram em volta três cachorros. Trocamos de roupa, tomamos banhos, comemos sanduíches. A torradeira foi usada cinco vezes. A geladeira foi aberta trinta e duas vezes. Foram dados três milhões, duzentos e doze passos nessa casa em vinte e quatro horas. As luzes foram apagadas e acendidas o dia todo. As vozes falaram e se calaram. Os amores existiram. Os olhares existiram. O teclado do computador passou por seis dedos diferentes. Gotas de suor de dezesseis pessoas caíram no tablado do teatro. Cabelos caíram. Espirramos. Tossimos. Houve insegurança. Houve descoberta. Houve poeira se juntando na estante. Houve uma aranha branca gigante pendurada no telhado. Tiramos uma foto dela. Nos abraçamos. Decidimos uma viagem. Discutimos trabalhos. Cinco celulares foram carregados. A grama foi cortada uma vez. Demorou trinta minutos. O ventilador fez com que cinco folhas voassem da mesa e caíssem no chão. Vinte e sete pratos sujos passaram pela pia. Quatro contratos de alunos foram preenchidos. E todos esses números são ficção. Nenhum deles é exato e tem compromisso com a realidade. Tudo é ficção. Os números não importam. A verdade não existe e se existe é fraca. Amanhã é tarde e amanhã nem existe. Mas tudo acontece. Aconteceu. Um dia inteiro.
Na mesa de estudo, alguns livros, em destaque: "A Mulher Só" de Harold Robbins, Comédias e Sonetos de Shakespeare, "Amor e Exílio" de Isaac B. Singer e "Maria Cachucha" de Joracy Camargo
 Na parte da manhã, fomos ao banco, organizamos a casa, escrevemos para o blog, reestruturamos o texto e fizemos novas descobertas musicais para "O Trem do Pantanal", espetáculo da Turma do Bagacinho que apresentaremos no sábado e no domingo. Começamos a preparar o almoço um pouco tarde. Comemos. Organizamos os quartos e a cozinha. Ligia foi para o computador escrever novos projetos e nos chamou para ouvirmos um texto escrito por ela. Ele dizia que para permanecer no teatro só precisamos de uma coisa: verdadeiro amor. Falamos sobre. Com amor. Gabriel começou a finalizar o desenho da Turma do Bagacinho. Kelly decorou caixotes com tecido para o cenário da peça. João ensaiou as músicas com seu mais novo instrumento, o acordeon. Yasmim treinou com o violão. Depois, começamos a arrumar o depósito. Recebemos duas ligações para alunos novos na turma adulta de quarta-feira. Decidimos abrir vagas para crianças de três anos. Começamos a ensaiar O Trem do Pantanal. Passamos o texto e as músicas, incluindo uma nova e autoral, que repetimos algumas vezes por conta da dificuldade. Os alunos da turma adulta avançada começaram a chegar. 
Partitura de uma música da trilha sonora de "O Trem do Pantanal"
 A aula começou sem todos os alunos terem chegado. Chegaram alunos suficientes para um começo. Ligia abriu todas as portas. Ventava. Nos posicionamos enquanto éramos orientados sobre a aula. Depois, nos separamos em duplas ou trios para que um alongasse o outro. Os alunos que ainda não tinham chegado começaram a chegar neste ponto. Alongamos um ao outro por cerca de trinta minutos. Ainda juntos, devíamos andar pelo espaço de mãos dadas, observando quem liderava e quem se deixava ir e como isso mudava, sempre pensando na ciência do ator e na consciência do corpo. Depois, andamos no espaço separados mas com o olhar fixo no parceiro. Devíamos correr sem tirar o olhar do parceiro. Devíamos correr e quando fosse dado o sinal para parar, encontrar a dupla ou o trio e juntar as mãos para que andássemos pelo espaço. Andamos de mãos dadas no plano baixo. Tentamos correr de mãos dadas no plano baixo. Toda essa etapa foi ao som de jazz e assim continuou quando Ligia nos pediu para deitarmos e pensarmos em toda a trajetória de nosso personagem, em toda a construção feita no Festival Processo em Cena - Edição Construção do Personagem. Após a calmaria, começava outro momento de fúria: nossos personagens tinham que voltar. Andando pelo espaço. Se comunicando. Olhando. Reagindo. Como ele é. Como ele faria. Não só com nossa dupla, mas com todos os presentes. Para entendermos o nosso personagem junto do outro e o outro junto a nós. Ligia nos pediu movimentos mais cheios. Depois, ganhamos cinco minutos para desenvolver o encontro de nossos personagens, pensando onde isso se daria, como tal personagem se comportaria em tal situação ou lugar. Concluímos todos esses exercícios de entendimento para que pudéssemos sentar e terminar nossas dramaturgias, que pedem o encontro de dois personagens, em alguns caso três, que foram desenvolvidos e construídos na primeira edição do Festival. Ligia pediu para que só mostrássemos o texto quando fosse nosso melhor possível. Ninguém mostrou, por enquanto. A aula acabou.
Parte do equipamento de "As Aventuras de Bagacinho"
 Quando todos os alunos foram embora, a casa fechou para o público. Continuou para nós que moramos. Fechamos o teatro, desligamos as luzes. Conversamos na cozinha sobre o cronograma dos próximos dias. Fizemos carinho nos três cachorros. Colocamos os três para dormir. Comeu quem sentia fome. Dormiu quem sentia sono. Nos cansamos. Pouco a pouco, fomos todos dormir até que na sala só ficassem os quadros, os livros e as cadeiras.

26/01/2017.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

O trem já vai partir! Embarque no último espetáculo da temporada de férias da turma do Bagacinho: O Trem do Pantanal! Depois de visitarmos Paris em "A Bela e a Fera", a Espanha em "Dom Quixote de La Mancha", o sertão do Cariri em "Romeu e Julieta", ainda passaremos em Aquidauana, Miranda e Corumbá. Você não pode perder! Exclusivo para 30 pessoas por dia! É só reservar sua cadeira por telefone ou por e-mail. O ingresso é R$20,00 mas TODO O MUNDO paga meia entrada! Então é só R$10,00! Vem passar suas férias com o Grupo Casa e a Turma do Bagacinho!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pela visita virtual. Esperamos sua visita real!

SEGUIDORES