dezembro 01, 2017

O PODER DA COMUNICAÇÃO

Por: Roberto Lima.


Quem sou eu neste mundo e como interfiro na vida dos que me cercam? A dúvida foi o incentivo gerador da impulsão: duvida e medo não são sinônimos! Me formei na área de logística, sou inicialmente um tecnólogo, trabalhei com lead time e caminhos críticos, tomadas de decisões, cumprir metas e atingir expectativas. Dentro da faculdade tive acesso à Língua Brasileira de Sinais (Libras) e iniciei um curso básico, que após algum tempo, se tornou uma prioridade em minha vida. 

A partir de então, passei a estudar com mais profundidade!  Não era apenas um idioma, era um modo de viver, era mais do que vocabulário, era comunicação plena! Coisas que eu não ousava dizer, eu podia sinalizar! Era uma forma de gritar ao mundo coisas pelas quais a voz não era forte! Essa língua me salvou diversas vezes... Procurei especialização na área, e fui para um curso de Pós-Graduação da Uníntese, na condição de receber o título de Capacitação em Libras, quando o período de banca se aproximou, senti que não estava preparado e decidi procurar aula de expressão corporal numa tentativa de desinibir, encontrei o Grupo Casa – Coletivo de Artistas que rapidamente me mostrou uma terceira realidade. Mergulhei sem hesitar! Logística não estava mais na minha identidade! Fui me achando aos poucos dentro de uma nova perspectiva.

Cheguei no Grupo Casa por causa da língua de sinais. Precisei fazer meu corpo falar para acompanhar as melodias que minhas mãos compunham e logo entendi que o ator e o intérprete caminham no mesmo lado da moeda: eles têm o poder da comunicação! O ator, em suas palavras percorre os sentidos visual-espacial-auditivo e o interprete percorre os sentidos visual-espacial-sinalizado, são mensageiros de uma mesma vertente de guerra. Entendi que havia achado meu lugar, eu era intérprete, mas descobri ser também ator! Era uma necessidade que brotou sem ser desejada, era maior que eu, e a tento conquistar a cada dia. A arte sempre vai carecer de defesa, e a melhor e mais potente arma é a salvação alcançada com a palavra. 

A comunicação é a forma mais eficaz que o ser humano tem de manter-se desperto. É a partir dela que entendemos e transformamos nossa realidade. O mundo sem comunicação é um mundo sem coletividade, sem alegria e sem amor. Dentro do teatro, uma real inclusão para surdos ainda é um desafio, para estes, peças teatrais, e quaisquer outras manifestações artísticas não despertam o interesse, pois já está enraizado o sentimento de que não haverá uma comunicação adequada, e quando há, se dará de forma precária ou sem preparo especializado. Há dois anos sinalizo peças infantis no shopping Bosque dos Ipês, e neste período não tivemos em nossa plateia um público surdo. As apresentações possuem entrada franca e mesmo assim, não conseguimos ter um surdo presente. Isso me destrói por dentro!

Nos últimos dois anos sinalizo e atuo pelo Grupo Casa, consegui administrar as funções e fundi-las, tarefa complexa, mas não impossível. Agora, nossa maior luta está sendo em fazer com que esse personagem intérprete ganhe mais espaço e movimento dentro de cena, e sei que demandará uma completa entrega ao mundo da pesquisa e da experimentação. Trazer o público surdo para dentro do simulacro que as vezes é a própria vida, um espelho do fictício e do real, ainda é desafiador, mas a semente está lançada, basta continuar a regar para colher os frutos. 

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