março 07, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 06/03/2017

   Começamos os despertares por volta das 9:00. Nosso dia de folga, mas ainda assim a folga de uma companhia de teatro em que grande parte dos integrantes moram juntos. Experienciamos a ciência do brincar de casinha. É o que todos fazemos com a casa. Enfeitamos o estranho, limpamos o sujo, organizamos a bagunça. É prática de grupo. Continuamos a reforma dos quartos da Comunidade trazendo os móveis coloridos e fazendo as organizações necessárias. Gabriel terminou os desenhos na parede do quarto vizinho. Os pássaros já moram numa árvore e estão rodeados por molduras coloridas. Durante a escolha dos desenhos, dias atrás, discutimos liberdade na arte. Não chegamos em conclusões mas pautamos as coisas nas quais o artista esbarra em suas criações. O pensamento, o público, os bons costumes, ele mesmo e suas vontades. Citamos Jack London que ao escrever "O Lobo do Mar" não levou a obra do jeito que ela surgiu para que a tensão sexual dos dois protagonistas masculinos não prejudicasse as vendas. Pensamos que liberdade possa ser o domínio de todas as práticas para o exercício delas com tranquilidade. Mas ao mesmo tempo em que o domínio de uma prática traz liberdade, ele traz prisão. Talvez liberdade não exista e fora daqui seja a morte. O quarto de Ligia e Fernando também pegou cor. Fernando deixou laranjadas duas paredes significativas. Estamos cumprindo nossa promessa de ter uma casa mais colorida. Notamos o quanto a reforma dos quartos melhorou a energia do andar de cima. As cores fazem uma casa. Almoçamos lasanha. Ligia respondeu nossos e-mails de alunos e propostas de trabalho. Fiz o diário de bordo por grande parte do dia. Tenho me debatido mais a partir da observação e consciência de que o trabalho do blog precisa ser mais profissional e menos blog de fofocas. Fernando comentou sobre o desafio proposto de um texto bom por dia. Ligia disse que nos coloca onde podemos chegar. Os dois partiram para o médico enquanto o restante da casa dormiu por necessidade e coincidência. Quando chegaram, continuamos o trabalho no andar de cima. Subimos móveis amarelos e verde musgo para o quarto de Ligia e Fernando e uma colcha de retalhos colorida para a cama. No meio da arrumação, achamos cartas antigas de alunos do Grupo Casa contando a importância do teatro em suas vidas. Todos os papéis escritos são cartas. Uma criança escreveu ao lado de um desenho de Romeu e Julieta os quesitos para ser uma grande atriz: não se achar, saber as deixas, ajudar os outros e falar alto. Varremos a sala e colocamos a mesa para o jantar do coletivo. A prática de grupo não para. Jantamos e a proposta e vontade de jogar Quest logo surgiu. Jogamos. O Quest também é ciência. A ciência de escavar o cérebro. Exercitamos nossos conhecimentos para que nosso pino ande no tabuleiro e quando não, aprendemos com a resposta do outro. O encontro transforma. Até o de pinos. Enquanto jogávamos, Ligia esteve em seu quarto para fazer a agenda de trabalho da companhia no mês de março. Escolhemos juntos as peças do mês pensando nas chances que queremos. Repetição de peça é chance de fazer melhor. Agenda terminada, ensaios marcados, espetáculos definidos e horários estabelecidos, Ligia se juntou ao jogo. Fomos até que a necessidade de dormir chegasse. Estamos próximos de completar três anos de companhia. Temos nos questionado se a comemoração será uma festa, um sarau ou uma leitura dramatizada. Ouvi que o plano é renovarmos nossos votos. Entendi que somos casados. Então serão bodas de trigo. Há três anos fazemos teatro juntos, observamos o teatro no mundo e nos avisamos quando o céu está bonito.


06/03/2017.

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