março 06, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 05/02/2017

   Fomos acordando e se acordando, como de acordo, por volta das 8:00. Tomamos um café da manhã reforçado, pegamos as últimas necessidades de cena no depósito e partimos para o Shopping Bosque dos Ipês ensaiar Cinderela. Chegamos e reconhecemos nosso espaço de trabalho. Organizamos o camarim e o cenário. Fernando afinou a iluminação, Ligia afinou o que precisava ser afinado: o equilíbrio do palco, os figurinos e os objetos. Posicionamos nossos instrumentos e começamos a tocar o espetáculo. Somos uma banda. Ensaiamos. Ligia e Fernando nos dirigiram e nos posicionaram. Deram aula. Ensinaram palhaçaria. Ensinaram a respeitar a marca sem cumprir função, respeitar a marca existindo. Existir sem o naturalismo impregnado pela televisão. Ainda somos todos alunos de teatro. Observamos a diferença dessa apresentação de Cinderela para as anteriores, partindo do ponto que agora existem novos atores, novas marcações e novas inexperiências. A fome se apresentou em nossas barrigas e decidimos parar para comer. Almoçamos sanduíches. Má escolha para a saúde, mas tinha a rapidez necessária para continuarmos nosso ensaio. Está bem que teatro também não é a melhor opção para a saúde. Continuemos. Continuamos de onde paramos e fomos até o fim. Após o fim, Ligia e Fernando iniciaram uma reunião sobre o espetáculo e sobre o mundo. Nosso mundo era aquele naquele momento. Falaram sobre escutarmos e enxergarmos uns aos outros em cena para que ela aconteça da melhor forma possível, com consciência e tranquilidade. Sobre a preocupação de não fazermos um espetáculo prazeroso apenas de forma interna tornando desinteressante para quem vê de fora. Sobre entendermos nosso personagem e o do outro. Defenderam a presentificação. Trabalhamos como presentificadores. Fernando e Ligia lembraram da ciência que tivemos o prazer de experienciar em nossa temporada de férias, feita em janeiro no teatro de casa. A ciência da repetição. Fizemos os mesmos espetáculos por dois dias seguidos. Lembramos que a apresentação do segundo dia era notoriamente melhor que a primeira, por conta da prática, da experimentação, do domínio da cena. Temos sorte de experimentar uma peça diferente por semana no Shopping Bosque dos Ipês. É uma outra ciência. A ciência do agora ou nunca. Porque não repetimos no dia seguinte. Só acontece no dia que acontece. Parece uma conversa de horas. Foi e continuará sendo. É a tecla em que batemos. Organizamos o palco para o início do espetáculo e trocamos nossos figurinos da vida cotidiana pelos figurinos de nossos palhaços. Testamos o som de nossos microfones frente à uma plateia já cheia. Às 15:15, Toi Toi Toi e cortejo pelo shopping. A ciranda nos levou até o palco e apresentamos Cinderela entre calços e percalços para um Arena Bosque lotado. Terminamos a peça com a consciência de que não fizemos nosso trabalho da maneira que podemos. Recebemos bronca de Ligia e Fernando no camarim. Sobre estarmos desatentos e sem ouvido. Sem enxergar a cena, não há o enxergamento de si mesmo, não há presentificação e existência. Não estivemos ali cem por cento por descuido, por falta. Ficamos aquém do que poderíamos fazer. As falas cortadas, o desequilíbrio no palco, os movimentos flácidos e os problemas no microfone denunciaram nossa falta de olhos e ouvidos. Entendemos. Estamos de acordo. Organizamos o palco e nossos figurinos para a próxima. Até a próxima. Voltamos para casa divididos em três carros com um destino em comum: o lanche da tarde. Lanchamos todos juntos na mesa da sala com sonhos, pães, chás e cafés. Fernando e Ligia contaram sobre a falsa promoção relâmpago que aconteceu no supermercado em que compraram nosso lanche. O mundo é cheio de teatro. Inclusive o ruim. A vontade e a proposta de jogarmos Quest se apresentou. A mesa do lanche virou mesa de jogo. Mesas são multifunções. Jogamos duas partidas e fomos vencidos pelo jogo e pelo cansaço. Ligia jogou enquanto fechava trabalhos para a companhia. Topamos apresentar Romeu e Julieta e ministrar uma oficina de teatro para crianças numa escola. As despedidas necessárias foram feitas e organizamos a casa para que ela dormisse e nós também. Não dormimos. A casa sim. A louça está lavada até a próxima refeição. A porta está fechada até a próxima chave. Os figurinos estão no varal até a próxima. Até.


05/02/2017.


2 comentários:

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