março 10, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 08/03/2017


Acordamos às 9:00 para a organização de nosso depósito de ferramentas. Nossas ferramentas são de teatro. Figurinos, sapatos, tecidos, bolsas e cortinas. Terminamos e direcionamos a força de organização para os outros lugares necessários da casa. Garagem, sala, quartos, cozinha e chãos foram limpos enquanto discutíamos amor, arte e a morte por necessidade. Gabriel teve a ideia de transformar as boas sentenças que soltamos no cotidiano em artes para nossa página do Facebook. "Sem possibilidade de ser parida, a arte passa a ser imposta" inaugurou, resultado de uma discussão sobre o lugar mercantilista em que a arte por vezes se encontra afastando o lugar da liberdade de criação. Resolvemos nossos compromissos e particularidades coletivas para começarmos nosso grupo de estudos. Iniciamos a leitura do segundo capítulo do livro, capitaneados por Ligia e Fernando e equipados de três traduções diferentes. Somos dez digerindo literatura. Identificamos na história a presença da "Jornada do Herói", conceito de Joseph Cambell. O segundo capítulo trouxe os primeiros sinais da transformação a partir do encontro no embate do protagonista com outra força selvagem e diabólica frente à sua inteligência e sensibilidade. Comentamos que precisamos das duas forças. Para fazer teatro, precisamos ser poetas e navegadores. Por agora, estamos mais perto da poesia. Ainda não sabemos como puxar uma vela. Esperamos que o processo nos encaminhe. Pensamos teatro a partir das diferentes palavras e línguas das traduções formando um mesmo sentido. Cessamos devido à chegada das 17:30, horário da aula de teatro para crianças começar com Febraro e Samuel. 

   As crianças começaram se alongando e se aquecendo pelo espaço. Experimentaram novos corpos, vozes e formas de andar buscando entender o caminho do corpo e sua percepção no espaço. Perceberam o chão de madeira, a parede de gesso, o outro de carne e osso. Teatro é tato. Escolheram livros de nossa biblioteca e compartilharam a história da forma que entenderam. O Patinho Feio foi levado por um vento muito forte de volta para sua família no fim da história. A Bruxa de João e Maria era também mãe deles. O encontro transforma. Toi Toi Toi!

   Às 19:30, aula de teatro para adultos, com Ligia. Lá fora o que é lá de fora. Alongamos e aquecemos o corpo para o trabalho. Estudamos a ciência do coletivo e a sintonia do encontro nos concentrando para que fôssemos um só corpo com uma só respiração. Experienciamos a percepção do espaço em coletivo de olhos fechados, se guiando em conjunto, lentos e rápidos. A dificuldade de se neutralizar para a união das matérias, a dificuldade de não estar cheio de si mesmo. Depois do exercício, lemos e discutimos o tratamento final de nossas sinopses. Rendeu um bom caldo. O caldo de nós mesmos. O outro é a cenoura de nossa sopa. Finalizamos a aula às 9:30. A casa fechou para o público e abriu para que jantássemos a sopa de calabresa preparada por Fernando. A energia precisava baixar. Fomos dormir e amanhã a navegação continua. É um diário de bordo porque estamos a bordo. Somos poetas e navegadores. 


08/03/2017.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pela visita virtual. Esperamos sua visita real!

SEGUIDORES