fevereiro 02, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 01/02/2017

   Nosso Fevereiro começou agitado. Acordamos às 7:00 para sair às 8:00, com destino a escola Innovare, em Maracaju, para recepcionar os alunos em seu primeiro dia de aula. Ligia, Fernando, João, Yasmim foram em um carro para passar as músicas do trabalho. Gabriel e os instrumentos musicais foram junto. Kelly, Febraro, Samuel e os elementos de cena foram em outro carro. Chovia. Chegamos na escola às 10:34. Descarregamos os carros e fomos recebidos pela diretora, que cedeu uma sala para nos maquiarmos e vestirmos. Logo éramos A Turma do Bagacinho. Fizemos as boas vindas para os alunos adolescentes. A energia era boa, nos olhavam encantados. Mixirica na perna de pau, Alcaparra e Berinjela em banquinhos, Bolonhesa e Bagacinho contando história, Carranca falando poesia, Pão com Ovo e Charanga nos instrumentos musicais. Fizemos juntos um grande Toi Toi Toi, o nosso substituto do "merda" no teatro infantil. É como os alemães desejam boa sorte. Depois, fizemos a acolhida das crianças com a mesma proposta, mas com a consciência do que poderíamos fazer melhor e colocando em prática. A chuva competia com nossa voz. Prestaram atenção em nós. Mais um Toi Toi Toi! Terminamos as apresentações, tiramos a maquiagem e trocamos de roupa para almoçar. Nos prepararam um almoço incrível: frango assado com batatas, arroz, macarrão e salada. Nos refastelamos onde quer que nos chamem. Conversamos com a diretora. Falamos sobre a escola, formação de plateia, o que acham que o teatro é e como ele realmente é. Contou sobre um compadre fazendeiro de Maracaju que após 50 anos foi para o Rio fazer Tablado. Ficamos felizes por quem sonha. 14:30. Kelly, Yasmim, Febraro e Samuel voltaram para Campo Grande na frente para chegarem a tempo da aula da turma infantil, às 17:30. Ligia, Fernando, João e Gabriel foram logo atrás. Chegamos às 16:45.
   Ligia e Fernando subiram para descansar. 17:30. As crianças chegaram e Yasmim, Samuel e Febraro começaram a aula. Gabriel participou. Continuamos o processo de reconhecimento do personagem. O encontro do personagem com o ator. Na aula de hoje, tivemos Sapo, Palhaço, Fantasma, Francesa, Cavaleiro, Rei. Se alongaram, aqueceram, fizeram descobertas de corpo e voz desses personagens para depois ir pra cena. Criaram a história, montaram um canovaccio e começaram. Luz! Silêncio na coxia! Foi! Encontro de todos os personagens. Começo, meio e fim. Repetiram duas vezes. Uma aluna disse: "Não quero fazer um sapo! Ser sapo é muito verde, não gosto.". Ela acabou fazendo um ótimo sapo, no fim das contas. Sentaram e conversaram sobre as dificuldades. Listaram vergonha, medo e atuar. Falaram que precisam dominar os medos e apontaram a solução; repetir e ensaiar. Teatro é a arte da repetição. Terminamos com um Toi Toi Toi. Daniel anotou toda a aula buscando entender o lugar do ator, partindo do ponto de que sua vontade é a direção.
   Terminada a aula infantil, os alunos da turma adulta começaram a chegar. Alunos antigos, recentes e totalmente novos enchiam a casa. Gravamos e postamos no Facebook. Ligia chamou todos e iniciou a aula. Etapas bem divididas. Tudo ao som de jazz. Primeiramente, nos alongamos por 20 minutos. Depois, andamos pelo espaço de várias formas diferentes. Sempre como cientistas, estudando a ciência do caminhar, do olhar para o outro, das relações. Corremos pelo espaço. Não podíamos ignorar os encontros. Se tocou, reagiu. Reagir com amor. Todo encontro é de amor, até os que sangram. Congelamos. Três por vez andavam entre os congelados fazendo mudanças em suas posições, feições e conexões. A palavra de ordem era SIM. Mantemos. Suamos. Terminada esta etapa, Ligia deu 10 minutos para que cada um pegasse um livro em nossa biblioteca e escolhesse uma frase. Tivemos Dostoiévski, Shakespeare, Cora Coralina e até "A Função da Família Cristã no Mundo de Hoje". Pois é. Escolhemos e andamos pelo espaço experimentando essa fala em nosso corpo e nossa voz. O peso da frase. De que forma ela cabe na boca. Após 20 minutos, foi feita uma meia-lua com os 27 alunos para que todos fossem ao centro em sequência apresentar as descobertas. Dividimos com o outro e admiramos o outro. Ligia fez as considerações finais. Nos orientou a experimentar sem duvidar. O dever do ator é experimentar tudo, não qualquer coisa. Falou para não cairmos no óbvio, não imprimirmos nossa vontade em cima da palavra. Ela existe sem a gente. Nos dividimos em duplas e massageamos o parceiro por 10 minutos. Finalizamos a aula com um grande Merda.

   Fernando limpou o teatro. Atendemos alunos até as 22:00. Fechamos o Grupo Casa para o público. Fomos ao supermercado e compramos ingredientes para sanduíche. Tivemos um jantar gostoso e silencioso. Nos sentimos na Subway. Fechamos a casa, nos despedimos e subimos. Dormimos. Estávamos cansados. Dia cheio de trabalho, de teatro, de encontro. Estivemos em duas cidades num dia só, demos duas aulas, fizemos duas refeições juntos. Todos os números ainda são ficção. Somos uma companhia de teatro. Temos atores, poetas, palhaços, pernas de pau e caras de pau. Fizemos a oração do teatro seis vezes, só hoje. Somos religiosos. Amém.


01/02/2017.

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