fevereiro 16, 2017

DIÁRIO DE BORDO: 15/02/2017

   Febraro acordou às 5:30 para ir ao exército. Gabriel à faculdade. Ligia e Samuel acordaram às 8:00 para o retorno do médico. Fernando os acompanhou com nervosismo. "Tudo certo" disse o médico. Fim do nervosismo. Voltaram para casa. Fernando e Samuel seguiram para o cabeleireiro. Cortaram os cabelos e ganharam massagem. É incrível o que mãos bem treinadas podem fazer em ombros e o que tesouras ágeis podem fazer em cabelos. Estamos bonitos. Venham nos visitar. Conheçam a nova decoração da garagem e nossos novos cabelos. Ligia e João prepararam o almoço. Aos poucos todos foram se notando e se encontrando até ocuparmos nossos lugares na mesa para almoçarmos juntos. O encontro de Ligia, Fernando, Yasmim, João, Yasmim, Preta, Samuel e Febraro com a carne de soja e o macarrão. Conversamos sobre tudo. Limpamos o teatro para receber os alunos. Após o almoço, iniciamos um grupo de estudos por necessidade. As coisas acontecem por necessidade. Iniciamos a leitura de um livro para um possível novo espetáculo e entramos em conversa. Nós nos apaixonamos muito fácil. Tudo vira vontade de fazer um espetáculo. Dessa vez, planejamos nos aprofundar em romance-em-cena. A primeira parte era uma apresentação do autor. Nos debruçamos sobre sua vida difícil e aventureira. Grifamos palavras bonitas, épocas e acontecimentos para estudar. Rememoramos a pauta do dramaturgo que só era dramaturgo, como Ibsen. Discutimos a formação do artista no século XIX e nos dias de hoje. Pensamos em que gênio pode nos salvar nos dias de hoje. Estamos abalados com a morte do menino que foi agredido com uma mangueira de pressão. Terminamos o grupo de estudo com a promessa de que só leremos as próximas páginas juntos. As crianças começavam a chegar. 17:30. Começamos a aula, as crianças se alongaram e se aqueceram. A primeira hora foi destinada à parte de musicalização, ministrada por João. Os alunos descobriram música em seus dedos, narizes, pés e bocas. O entendimento da música. Usaram as palavras barulho, alma, sentimento e voz para definir o que era música. Estudaram o som do outro para repetir. Criaram a partir do som do outro. Na segunda hora, se alongaram e começaram um estudo do corpo. Andaram e correram pelo espaço em contato com o outro. Se olhando, preenchendo os espaços vazios, usando os planos alto, médio e baixo. Existindo. Teatro é a arte de existir. Terminamos a aula repassando um aperto na mão numa roda. O aperto serve para lembrar que estamos vivos. Toi Toi Toi! Ligia e Kelly trabalharam nas planilhas durante a aula. Fernando caminhou com Azar e Almendra no Parque das Nações Indígenas. Antes, eles só tinham visto o parque por fora. Preta passou o dia fazendo artesanatos para o nosso 1º Zappada, que ocorrerá no domingo. Venham!
   19:30. Aula da turma adulta. O plano de aula era outro mas o grupo de estudos virou uma chave. Outra aula virou necessidade. Sentamos em roda para conversar. Conversamos por duas horas sobre o teatro, o universo e a morte. Por que estávamos fazendo teatro e não pilates. Sobre o quanto ainda precisamos aprender e o quão nada ainda somos. Podemos morrer amanhã e ainda assim temos o costume de nos darmos por satisfeitos. Uma aluna de 13 anos dividiu sua experiência dizendo que entendia a importância do teatro mesmo em meio aos seus medos e disse que seu medo só aumentou à medida que ela entendeu a seriedade da coisa. Passamos da hora. Foi aula de teatro. Teatro dói. Uma aula para o entendimento de que tudo é teatro, uma conversa é teatro e um artista não existe sem trabalho e estudo. Ligia novamente pediu as sinopses dos personagens para a próxima aula. O melhor que podemos fazer.
   22:00. A aula acabou. As conversas continuaram. Aos poucos, foram acabando. A casa foi fechando para o público. Nós mantivemos a brilhante ideia tida mais cedo de jantar na feira. Nos dividimos Ligia, Fernando, Daniel, Febraro, Yasmim, Preta, Samuel, Almendra, Gabriel, Azar e Kelly em três carros. Nunca fomos tantos. Parece até nome de espetáculo. O pastel que comemos estava um espetáculo. Azar comeu pastel pela primeira vez. Adorou mas se sentiu muito cheio. O resto de nós, nem tanto. Ainda coube um doce para cada um. Agora sim, satisfeitos. Passamos na farmácia e voltamos para casa. Logo, todos dormimos. Demos os boa noites, eu te amos e fechamos as portas. Nos encerramos em nossos quartos.
   Teatro é para quem tem uma vontade sobrenatural: os burros de cargas, o que carregam pianos, os que não se cansam nunca, não desistem nunca. Teatro é para quem tem sangue no olho, enfrenta sol, chuva e tempestade, mesmo que os bolsos estejam secos. O resto é falastronice, o que sobra é artista de fim de semana, grupinho de amigos e lero lero, close e rede social. Isso quem disse foi nossa página no Facebook. O diário de bordo concorda e não tem mais nada a dizer. Podemos morrer amanhã, atropelados por um carro ou por um iogurte vencido. E talvez nunca estivemos vivos. Nos demos ao luxo de não estarmos. O asteroide que viria à Terra foi cancelado. Sou contraditório. Boa noite.


15/02/2017.


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